sábado, 30 de junho de 2012

ESSE HOMEM


ESSE HOMEM
(Lena Ferreira)

Ah, esse homem
mexe tanto comigo
quando chega mansinho
e me beija a nuca
me deixando maluca

Ah, esse homem
sabe todo o segredo
que escondo na pele
e ocultando na alma
me revela com calma

Ah, esse homem
me bolina o ouvido
sussurrando baixinho
palavrinhas não castas
mas só isso não basta

Ah, esse homem
floresceu meu inverno
invernou meu  verão
outonou a primavera
dentro do meu coração

quarta-feira, 27 de junho de 2012


ARRANJO
(Lena Ferreira)


Eram mudos
os olhares das janelas
sufocados com o ar amendoado
e as vidraças embaçavam a visão
de mais por dentro que por fora
como os pontos da toalha em crochê
mal diposta na mesinha em craquelè


Eram gritantes
os vazios desses cômodos
solitários monólogos a dois
segredando, em ranhuras delicadas
debaixo dos tapetes e almofadas
e por trás da cortina em degradê
de como as coisas poderiam ser



terça-feira, 26 de junho de 2012

PERMITA-ME


PERMITA-ME
(Lena Ferreira)

Permita-me dizer-te uma palavra
Talvez sejam duas ou três
Não sei bem

Permita-me tocar-te uma única vez
E sentir-te como se fosses o primeiro
E beijar-te como se fosses o último

Permita-me olhar-te assim
Do meu jeito:
Meio louco, meio ingênuo
Meio santo, meio demônio

Permita-me desejar-te
Por alguns minutos
Ou horas, talvez
Preso em meus olhos ansiosos

Permita-me amar-te assim
Louca, intensa e infinitamente

Enquanto houver amor...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

QUANDO TU VENS


 
Sei bem quando tu vens
antes mesmo de chegares
a faceirice dos olhos ruboriza
ondas variantes pelas curvas
e setas indicando o porto certo
um cais seguro de atracação

Sei bem quando tu vens
a brisa mole traz o teu perfume
lenta, a mente queda os pensares
e a alma desmaia em sensações
imprevistas, surpreendentemente


Sei bem quando tu vens
pássaros cantam ao longe
anunciando a tua chegada
asas cansadas de voos incertos
por nuvens densas, carregadas de ais

Sei bem quando tu vens
o vento para e, no vão do seu silêncio,
o teu silêncio me fala bem baixinho
da paciência em reserva que é amar

Sei bem quando tu vens
e antes de chegares, me apronto
pausando a ansiedade, eu me deito
na tua calma que me traz o bem e mais

QUANDO TU VENS - Lena Ferreira

MADRUGANDO SILÊNCIOS


MADRUGANDO SILÊNCIOS
(Lena Ferreira)

Enquanto a noite respira silêncios
mãos, aflitas, se afogam em saudades
de um inverno passado, tão presente,
onde segredos escorriam pelos dedos

No desespero, se agarram às estrelas
onde penduram todas as suas queixas
tentando aquecê-las, apressam a noite
madrugando silêncios, acordam o sol

domingo, 24 de junho de 2012

NOS VARAIS


NOS VARAIS
(Lena Ferreira)

Nos varais
há, de mim,
muito mais
que nós
- pedaços -
ais demais
ai de mim
ai de nós
- cansaço -

lida nada leve
 vida muito breve
logo vem o fim
logo me desfaço
estendendo os nós
revirando os cós
aguardando sóis
ai de mim
ai de nós
-mormaço-

nos varais
há, de mim,
muito mais
que nós
-os traços-
mais e mais
mas enfim
vêm os sóis
secam os nós
eu, a sós,
me refaço

sexta-feira, 22 de junho de 2012

QUINTANEANDO O TEMPO


QUINTANEANDO O TEMPO
(Lena Ferreira)

Ah, Mário, se por aqui ainda andasses
com pés de passarinho e letras aladas
quintaneando o teu silêncio, confirmarias
o alvo certo do teu aforismo sobre o tempo
que com passos assustadoramente fungíveis
engole fatos, fotos, ventos, velas, elementos
vulneráveis sentimentos; bem dissestes
 tanto tempo e o dito permanece imutável
a não ser pelo próprio espaço que, caduco
não consegue acompanhar a avalanche
de informações que chegam de toda parte
e reparte a mente em tantos pedaços
sem que, cada parte partida, absorva
verdadeiramente, o que há em cada fato

Os tempos são outros, Mário, são sim
adornam a distância com  a própria distância
entornam à inconstância mais inconstância
em toques progressivamente superficiais
porém tranquilizo-te, poeta; deito, como tu
nas citações dos outros sobre mim; assim
sereníssima, tranquila, calma e equilibrada
andarei sob essas impressões atemporais
sob a promessa de não levar para o túmulo
o acúmulo do tudo que posso fazer no agora

ANCORAGEM



ANCORAGEM
(Lena Ferreira)

O mar que nos separa é tão imenso
alarga, no meu peito, a tristeza
de conviver com a torpe incerteza
de um dia te tocar como te penso


Mas lendo esses teus versos, me convenço
que essa distância; digo com certeza,
faz mais do que manter a chama acesa
ascende o desejo em corpo tenso

Liberto o pensamento e em viagem
visito-te nos sonhos mais ardentes
fazendo, do teu corpo, ancoragem

Onde um mar em ondas, todas quentes
sopradas pela brisa de passagem
engole as vontades mais frementes

quinta-feira, 21 de junho de 2012

CHAMA


CHAMA
(Lena Ferreira)

Deitada no teu leito ternamente
cubrindo-te com meu fogo sagrado
isenta de pudor e de pecado
sussurro poesias, lentamente.

Percorro tua pele que, tão quente,
derrama-se em suores destilados
inflama a nossa alma, lado a lado
e aumenta o meu desejo, já ardente.

A chama acesa permanece pura
enquanto o amor no leito se derrama
num frenesi que beira à loucura.

O tempo, adormecido, não reclama;
enquanto nós trocamos ternas juras
segredos viram cinzas nessa chama.

HORAS MORTAS


HORAS MORTAS
(Lena Ferreira)

E te direi de como as horas, tortas,
faziam ecoar os seus lamentos
em tique-taques, perturbando portas
anunciando o descontentamento

Por verem, à vida, as gentes semimortas,
por todo canto, sem tomarem assento
em canto algum e se tu não te importas
direi, também, do enorme sofrimento

Das horas gastas com assunto fútil
e do ponteiro incerto, tolo, inútil
que apontava o dedo teso, em riste

Com um discurso de ensaio raso
sobre os lamentos, ria; pouco caso,
matando as horas, tortas e tão tristes

domingo, 17 de junho de 2012

SERVE



SERVE
(Lena Ferreira)

Sossegue, segue
serve sua sina
suspiro breve
socorre a menina
silêncio leve
segue sua rotina
segredo, cegue,
sacode a cortina
sussurro greve
secando a retina
seguindo, serve;
senão contamina

sábado, 16 de junho de 2012

Chovendo...





Entre risos e um bom forró tocado na TV encerro minhas linhas vazias com um peso de carga solitária. Faz silêncio no avesso. O céu se fecha, esconde as estrelas, o azul virá cinza e forçando os olhos vejo que é o cinza que encobre o marinho... Ah! As formigas voam, adentram para encostar-se nas luzes, até os insetos buscam o calor, que dirá eu que já temo o frio que vem lentamente soprando. Preciso trocar a roupa, aquecer a pele alva semi-nua, nada de lingerie preta ou hobby de seda, um bom pijama de calças e mangas longas (aquele da ovelhinha e suas patinhas), o frio já endurece os pelos claros e o duro seio que aponta para a solidão. Eu vejo o silêncio abraçando a rua, todos se agasalhando nas casas e nas tevês e eu só ouço "sempre Gabrieeela"... Estão assistindo o Gonzagão igual à minha sala. Só eu não vejo porque me seduzo pelo Céu que há de chorar logo mais. Penso em tecer minhas lágrimas com a Dele. Lavar os pés e as lembranças. Tonteio e sento na cadeira de plástico porque recordo o MAR. Meu saudoso MAR! Que seu sal nos recolha, misture-se com nossas águas e que tudo se mova para os infindos instantes em que os sonhos pararam de impulsionar o sorriso. E eu sorrio que logo penso que das dores serviram suas as lições, as chuvas me mostram que tudo logo escorre pra baixo e que o Sol nasce para cima e em breve ele se ergue. Sei que ergue, por isso espero na janela, com quimeras e se ficar sequelas...
...pintarei uma aquarela. Deixe-me chover em finas gotas de mim.


Bia Cunha

sexta-feira, 15 de junho de 2012

VAZIO


Antes mesmo
que o outono partísse
recolheste a alma, calado
deixando um menso vazio
nesta estranha estação

Antes mesmo
que o inverno chegasse
deixaste meu rosto gelado
e aqui dentro, pai, há um frio
neste meu órfão coração

Descansa, pai, nessa terra
descansa nessa terra pois seja como for
aguardarei que chegue, enfim, a primavera
para colher-te em uma nova flor

(Lena Ferreira)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Na hora em que me vejo...




No relógio da minha pressa faltou tempo para me sentir. Uns riscos nos olhos ao fechar ou abrir, uns fios brancos não mais tão escondidos entre os loiros, algumas transformações por todo ser... Melhor não enumerá-las...  O Tempo é imprescindível para o melhoramento das espécies.
Importo-me com a iminente sensação de que não me vejo além dos rabiscos, além de vultos no espelho. Sou mais do que tenho e tenho menos de mim por não me ser ou ter posse de tempo pra mim. Preciso que meu Eu se cale, não posso deixar que se passe a hora...
...a hora em que me vejo.
E sem muito esforço logo me contemplo sorrindo, um sorriso que aprendi a dar após muitas lágrimas caídas, lânguidas feridas, alma latente e sobrevivida. Espero regredir minha infância esquecida, voltar, quem sabe, ao tempo da amarelinha riscadinha na areia da rua, arremessarei uma das tantas pedras que me foram lançadas nos infortúnios passados...
...Passado.
Sem quedas. Ergui-me de todas elas. Refiz-me de criança à mulher. Sem medo algum vou pulando os riscos, conto casinhas e canto, canto em cada etapa, até na hora da virada, da outra brincadeira, da dança de roda ou simplesmente saltando a corda...
Ah! Eu canto...
“Senhoras e senhores, ponham a mão no chão
Senhoras e senhores, pulem de um pé só
Senhoras e senhores, dêem uma rodadinha...”
Canto, caio, levanto, entro e saio na mente minha e nas paisagens desenhadas de ilusões. Teço  telas de muitas contradições... Bem ou mal, mil e uma sensações. Sou mais que traços de rugas, sou mulher de alma nua, crua e muitos corações.

terça-feira, 12 de junho de 2012

CHAMADO


Meus olhos
tombam, moles de desejo,
a cada letra destes versos
traçados em minha pele macia...

Meus lábios,
ansiosos por teu beijo
ascendem em chama e te chamam
para compormos a mais lírica poesia...

(Lena Ferreira)