quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

OUTONO

Venta-me um vento sem sono
e apressa-me na escolha
entre o que cedo e o que me arde

Antecipando-me, outono:
desapego-me de algumas folhas;
outras virão, cedo ou tarde...

OUTONO
– Lena Ferreira – fev.14

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

SOLIDÁRIO

É com os ouvidos da alma que escuta
atento, as confidências, os lamentos
quando uma alma enluarada se agita
o discurso é sangria; pra quê contê-la?


Então, com os braços da alma, acalma
as tensões de mais um dia entre conflitos
no colo manso, tempestades, ventanias
esvaem-se; pra quê retê-las?


E, enquanto a madrugada em passos leves
passeia entre as calçadas de estrelas,
instaura em mim a calma, ainda que breve...
- adormeço, sonhando em mantê-la -


SOLIDÁRIO – Lena Ferreira – fev.14

sábado, 22 de fevereiro de 2014

OUTROS TEMPOS


Houve um tempo em que os precipícios
convidando-me a um cego salto,
seduzia (eu, um ser incauto,
me lançava no fim sem princípios)

...e não via

Houve um tempo em que os abismos
atraentes com os seus tantos vãos
acenavam (eu, poupando os nãos,
me entregava qual nos romantismos)

...e não via

Houve um tempo em que uma chuva forte
alagou estes olhos e o norte
ficou claro, então, como o dia

...que, até então, não via

Outros tempos, é certo, virão
mas já posso, com a nova visão
enxergar o que é só euforia


OUTROS TEMPOS – Lena Ferreira – fev.14

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ALÉM

Permita-me inventar minhas verdades
em versos modelados, presas rimas
pois o estandarte das veracidades
pesa-me os ombros e me desanima

Permita-me ir além do que é palpável
nos versos livres, prosas ou haikais
entremeados com o que é improvável
pois, lhe confesso, o óbvio não me atrai

Permita-se pois há possibilidades
além da obviedade e são tão vastas
mas se prefere, segue a realidade;
eu lhe confesso, esta não me basta

ALÉM – Lena Ferreira – fev.14

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

ALÍVIO

E veio a chuva, gota a gota, mansa e leve
e, lavando o ranço dos suores da agonia,
- que incitava a calma à uma grave greve -
levou pro ralo o sal desses pesados dias

ALÍVIO - Lena Ferreira - fev.14

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

VIVEIRO DE ESTRELAS

Acordar assim, coberta por esses olhos negros
- negros de um negrume vertiginoso -
desperta os poros e os pelos num apelo silencioso:
que a maciez da sua boca, viveiro de estrelas,
constele esta pele em secretas explosões

VIVEIRO DE ESTRELAS - Lena Ferreira - fev.14


domingo, 9 de fevereiro de 2014

LUA

Sonhei-me vento
no arrepio da pele morena
onde, nua, bronzeava-me com seus dedos de sol

Sonhei-me vento
na fogueira que anima o peito
onde, nua, embolava-me nos seus pelos-lençol

Sonhei-me vento
neste verso que sai sem medo
onde, nua, deliro abrasando-nos além do arrebol

Sonhei-me vento...
Mas a razão me acorda e avisa:
És só lua...Aceita, é tempo; jamais beijarás o sol...


LUA – Lena Ferreira –

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

VENTURAS

Em torrente de sussurros infinitos
dou-te a alma e convido a alma tua
a venturas no entorno irrestrito;
posto-me, disposta, inteiramente nua

Mas é teu silêncio e esse ar contrito
que responde o verso e a rima pobre, sua;
já não sei, ao certo, o que mais te dito
mas, querendo, dou-te livre acesso à lua

Dou-te estrelas; cometas constelações
far-te-ei provar distintas sensações
nas viagens pelas venturosas águas

Se quereis, mergulhe e dar-te-ei a prova
de que o verbo explicitado se comprova
neste verso transbordante que deságua

VENTURAS - Lena Ferreira -

ZELO

E enfim, o silêncio dos dias solitários
cedeu lugar ao alvoroço pela volta
enfim, a ventania transformou-se em brisa mole;
felicidade é pra se beber de gole em gole

Olhos sorrindo tateando tudo em volta
lábios abrasados, se abraçando
e a cada toque, uma porta era entreaberta;
se zelo existe, haverá redescobertas

Caminhando, calma, a mesma lua, leve
suspirava e, talvez, por inveja breve,
escondeu-se nas nuvens raras dessa noite

E nós, sob juras secretas, em suavidades
cobertos de pele e de intimidades
inauguramos estrelas onde o céu fez greve

ZELO – Lena Ferreira –

CONTANDO ESTRELAS

Perco-me a contar as estrelas
que brincam no céu da sua boca
grávida de sonhos e promessas
salivando entre a razão e a loucura

E da ternura desse seu sorriso
bebo as gotas mais singelas
afagando com dedos de brisa
cada onda gris dos seus cabelos

Abraço o mar bem no seu peito
e acalento o meu sonho mais secreto:
pássaros bebendo da sanidade
que retém os meus pés no chão

Perco-me a contar estrelas
e nem percebo o que na noite acontece
- só me dou conta que o seu sol me amanhece -

CONTANDO ESTRELAS - Lena Ferreira -

NO ATO

Na cadência de suados suspiros
o aroma de uma primavera inteira
exala dos poros; dois corpos-de-lírio

...no ato, desabrocham.

NO ATO - Lena Ferreira - fev.2014